Numa altura em que velhos ódios religiosos voltam a reacender-se,
torna-se importante recordar o massacre de Lisboa de 1506. Tudo começou
no Convento de S. Domingos, a 19 de abril de 1506. A peste assolava a
capital desde outubro do ano anterior, situação dramaticamente ampliada
pela seca e pela fome. A igreja de São Domingos estava repleta de
cristãos – velhos e novos – esperando um sinal divino que acudisse
àqueles desesperados. Um milagre terá
ocorrido: uma luz brilhou, incandescente, no crucifixo da capela da
Igreja. Todos viram. Todos rejubilaram, menos um cristão-novo que ousou
duvidar da natureza divina da luz. No seu entendimento, a luz provinha
de uma das muitas candeias acesas naquele convento. Mal proferiu
semelhante blasfémia, o povo caiu sobre ele, arrastou-o para a rua e
agrediu-o barbaramente até cair inanimado.
Ato contínuo, um clima de intolerância cresceu e espalhou-se pelas ruas de Lisboa. Os cristãos procuravam e perseguiam os antigos judeus, forçando a entrada nas suas casas, capturando aqueles que se haviam recolhido nas igrejas, carregando mortos e vivos para as fogueiras que se acendiam na capital. Foram três dias de terror, pilhagem e carnificina, de que resultariam, de acordo com os cronistas da época, entre dois e quatro mil mortos.
Ainda que seja de uma época anterior e tenha acontecido numa circunstância diversa, o Retábulo do Corpo de Deus, do século XV, (MNMC4023), é uma peça do Museu que recorda um episódio de heresia cometido por um judeu conimbricense contra a partícula sagrada de Cristo, e que apresentamos hoje no #versoREverso da obra de arte, com a poesia de Isabel Pires na voz de Luís Moura Ramos.
Ato contínuo, um clima de intolerância cresceu e espalhou-se pelas ruas de Lisboa. Os cristãos procuravam e perseguiam os antigos judeus, forçando a entrada nas suas casas, capturando aqueles que se haviam recolhido nas igrejas, carregando mortos e vivos para as fogueiras que se acendiam na capital. Foram três dias de terror, pilhagem e carnificina, de que resultariam, de acordo com os cronistas da época, entre dois e quatro mil mortos.
Ainda que seja de uma época anterior e tenha acontecido numa circunstância diversa, o Retábulo do Corpo de Deus, do século XV, (MNMC4023), é uma peça do Museu que recorda um episódio de heresia cometido por um judeu conimbricense contra a partícula sagrada de Cristo, e que apresentamos hoje no #versoREverso da obra de arte, com a poesia de Isabel Pires na voz de Luís Moura Ramos.
‘Diante do Retábulo do Corpus Christi’
Na minha primeira comunhão,
quando a hóstia passou pela garganta,
foi assim.
quando a hóstia passou pela garganta,
foi assim.
Quando desci a nave, deslizaram por mim
uns feios azulejos na parede.
Não havia anjos com asas vermelhas e azuis,
não havia retábulo. Foi apenas
um dia luminoso de menina.
uns feios azulejos na parede.
Não havia anjos com asas vermelhas e azuis,
não havia retábulo. Foi apenas
um dia luminoso de menina.
Na minha primeira comunhão
não tinha asas. Só tive de as inventar
quando deixei a infância.
não tinha asas. Só tive de as inventar
quando deixei a infância.
Isabel Pires
Retábulo do Corpo de Deus, do século XV, (MNMC4023) | Vídeo
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Retábulo do Corpo de Deus Séc. XV 112 x 95 x 30 cm MNMC 4023 |
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