Elegendo o Museu como o lugar poético da memória, esta rúbrica,
publicada em cada domingo, constitui-se como um encontro entre a obra de
arte e a palavra poética, lançando um outro olhar sobre algumas obras
de referência do MNMC.
ONTEM, apresentamos uma obra-prima da
ourivesaria do século XII - o Cálice, uma oferenda de D. Gueda Mendes ao
Mosteiro de S. Miguel de Refoios, que integra, atualmente, a exposição
permanente do MNMC, inspirador da poesia de João Miguel Fernandes Jorge declamada por Cândida Ferreira.
Cálice | Séc. XII | MNMC6030
Este cálice de prata dourada foi uma oferenda de D. Gueda Mendes ao
Mosteiro de S. Miguel de Refoios. Obra-prima da ourivesaria do séc. XII,
quer pela proporcionalidade e depuração das formas, quer ainda pela
riqueza do programa iconográfico, representa, na copa, Cristo e os
Apóstolos e, no pé, os símbolos dos evangelistas: S. Marcos é o leão; S.
Mateus, o anjo; S. Lucas, o touro e S. João, a águia.
As figuras,
bem como os seus enquadramentos, ao gosto românico, são executadas num
relevo pouco acentuado que igualmente se observa nas legendas que
contornam o bordo e a orla do pé. Este cálice utiliza um programa
decorativo profuso, sem paralelos nacionais, em que a representação
figurativa prevalece sobre a geométrica ou vegetalista.
'Cálice'
Deixou os dedos perderem-se
no tempo que foi o da taça
na juba do leão de Marcos
na asa do anjo que figura Mateus
no ouro que desprende mais brilhos nos cornos do touro de Lucas
para depois sentirem a lonjura na águia de João.
D. Gueda Mendes, Senhor que foi
em Terras de Basto nos anos primeiros do reino
ao Abade do Mosteiro de S. Miguel de Refojos, o cálice
fez em oferenda. Quando o vaso doou
ecoaram no Capítulo –
nenhum santo nenhum sábio
pode evitar o céu
desde tempos antigos
a terra dá-nos um destino
visto haver vida há que morrer
E os dedos demoraram no relevo da prata dourada.
João Miguel Fernandes Jorge